MEU AMIGO BRANCO


Eu e o missionário Rocha estávamos em frente a Praça Morena Bela em Serrinha/Bahia, quando um rapaz todo maltrapilho e mal cheiroso se aproximou e nos pediu uma ajuda em dinheiro. Então começamos a conversar com ele. Seu nome é Cicélio e está vindo de Juazeiro do Norte/Ceará. Com sua esposa e 4 filhos, está andando de cidade em cidade a caminho da cidade de Cruz das Almas/Bahia, pois alguns de seus parentes residiam naquele lugar.
Em nossa conversa ele dizia que a vida está muito difícil e que a um bom tempo atrás tentou a vida em São Paulo, mas sem êxito voltou para o sertão. Quando perguntei se ele confiava em Deus, sua resposta foi imediata: “Com fé em Deus e meu padinho Cíço tudo há de dar certo”. Logo percebi sua devoção a Padre Cícero!
Conversamos bastante e estava nítido em seus olhos o sofrimento e desgaste que a vida no sertão tinha lhe causado. O rosto queimado pelo sol escaldante, lábios rachados e dentes podres, um físico envelhecido pela situação em que sempre viveu, mas seus olhos é que chamavam toda a atenção, pois olhos de esperança, como quem diz: “sei que algo de bom um dia irá acontecer!”. Criado por uma família devota no sertão do Ceará, cresceu sem saber ler ou escrever, motivado pela mãe a devoção ao “Padim Ciço” não teve limites, pois sua vida têm sido um ato de gratidão a esta crença tão influenciador naquela região. Pois ser devoto de Padre Cícero não é ter uma religião, e sim questão de honra.
Cicélio, ou melhor, Tita, como gostava de ser chamado me perguntou o nome, e quando disse: “meu nome é Everton”, ele logo exclamou: “que nome espalhafatoso!”. Foi hilariante seu comentário. Bem, como não conseguia pronunciar meu nome, então, passou a me chamar de “meu amigo branco”. Confesso que gostei muito de ser chamado de seu amigo, foi emocionante ouvir de um romeiro devoto que estava sendo confrontado por protestante a expressão, “amigo”. Algo que no sertão é muito difícil de acontecer.
Em seguida o levei para nossa base, na cidade de Serrinha, após tomarmos água e conversarmos mais um pouco, demos algumas roupas e alimentos para ele e sua família chegasse ao seu destino.
Bom, como costumo dizer, a beleza do sertão é o seu povo. Mais uma vida foi alcançada pelo Evangelho de Cristo, e que Deus continue trabalhando na vida de rapaz amigável, o Cicélio, e que ele possa encontrar o verdadeiro caminho para a vida eterna.

2006/Pr.Everton Lopes

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